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Quando uma conversa demonstra a educação para a prática publicitária libertadora

14 de maio de 2021

Após a eliminação da cantora Karol Conká da 21ª edição do Big Brother Brasil, em uma ação publicitária promovida pela marca Amstel, criadores de conteúdo publicaram posts nas redes sociais digitais em torno do tema ‘empatia’.

A empatia pode ser mercantilizada? É necessário pagar para que haja esse tipo de conversa? Quais os limites éticos dessa hibridização entre conteúdos sociais e comerciais? Esses foram alguns dos questionamentos desenvolvidos por estudantes e pesquisadores no grupo de WhatsApp do OPSlab - Laboratório de Estudos e Observação em Publicidade, Comunicação e Sociedade.

Certamente são questões que merecem o devido aprofundamento - aqui mesmo, no blog do OPSlab, a participação das marcas em programas de entretenimento como o BBB já foi problematizada em outra publicação. Esse exercício de reflexão crítica sobre a comunicação publicitária entre os graduandos em Publicidade e Propaganda vinculados ao grupo, fez com que eu lembrasse os achados do meu Trabalho de Conclusão de Curso acerca da contribuição da extensão universitária para a formação crítica e cidadã.

A autonomia, o fomento à curiosidade, a motivação para a tomada de consciência, a problematização, o olhar crítico e a transformação social são elementos que constituem o que chamei no trabalho de educação para a prática publicitária libertadora, um exercício fomentado por espaços de formação que pensam a comunicação publicitária para além da simples prática mercadológica, considerando sua dimensão social. Trata-se de um conceito desenvolvido a partir das perspectivas de educação como prática de liberdade, de Paulo Freire, e comunicação para a construção da cidadania, de Cicilia Peruzzo.

Paulo Freire propõe, entre outras questões, que a educação deva ter como foco a ação transformadora da realidade, motivada pela esperança, do verbo esperançar, e não do verbo esperar. Isto é, trata-se de ação para a construção da mudança, não de uma espera passiva e contemplativa. Para tanto, é preciso que o educando tome consciência de seu entorno social e se enxergue como agente de transformação.

Já Cicilia Peruzzo trata do potencial do envolvimento em práticas comunicativas para essa mesma tomada de consciência. Segundo a autora, esse engajamento contribuiria para o exercício de uma cidadania crítica e emancipadora, forjada no seio de experiências sociais de troca e construção compartilhada de conhecimento.

Nesse sentido, defendo que o estímulo à apropriação crítica da publicidade pode ser compreendido como instrumento para que estudantes de Publicidade e Propaganda pensem sobre sua futura prática profissional, de modo a contemplar a responsabilidade social e educativa que ela necessariamente implica.

Questionar as possíveis influências sociais do discurso promovido por uma marca e problematizar a sua intenção persuasiva, como ocorrido no caso da discussão patrocinada pela Amstel, é um exercício que possibilita o olhar crítico para com a realidade, atravessada por valores sociais difundidos pela publicidade.

A utilização da comunicação publicitária como suporte para a construção de uma leitura de mundo mais consciente e questionadora pode ser estimulada e produzida em variados espaços. Estudantes e profissionais de Publicidade (seja em um Trabalho de Conclusão de Curso, em uma apresentação em congresso acadêmico ou em uma simples conversa de WhatsApp) podemos e devemos problematizar a comunicação publicitária. Certamente, é um caminho para a construção da educação para a prática publicitária libertadora.


Texto escrito por Thiago Toledo, mestrando em Comunicação no PPGCOM-UFMT, integrante do OPSlab.

Leia também: Marcas no BBB21 e a importância da leitura crítica da publicidade, análise relacionada ao BBB.


Referências:

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.

PERUZZO, C. M. K. Comunicação Comunitária e Educação para a Cidadania. Comunicação & Informação, v. 2, n. V, p. 205–228, 1999. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/ci/article/view/22855>. Acesso em: 16 out. 2020.

THIAGO, Toledo. Educação para a prática publicitária libertadora: a contribuição da extensão para a formação crítica e cidadã na graduação em Publicidade. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda) - Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2020.