Fique por dentro das nossas análises!

Primeira modelo plus size da Victoria’s Secret: mais um caso de diversitywashing

04 de agosto de 2021

A campanha “Love Yourself” (Ame a si mesma, traduzido), lançada pela famosa marca de lingeries Victoria’s Secret, em parceria com a Bluebella no ano de 2019, foi alvo de muitas críticas ao ser veiculada. Causou incômodo a forma como a diversidade foi abordada e “inclusa” entre seu time de modelos.

A campanha coloca como propósito mostrar diversidade e empoderamento entre as modelos da marca. É possível ver fotos de mulheres vestindo lingeries, focando menos na sensualização dos corpos e mais em uma postura firme, de cabeça erguida e empoderada. Foram utilizadas quatro modelos, sendo uma negra e três brancas. Dentre essas últimas, está Ali Tate-Cutler - ex-jogadora de futebol profissional, com um corpo atlético e curvilíneo - carregando consigo o título de “primeira modelo plus size da Victoria’s Secret”.

O conceito de diversitywashing, de Fernanda Carrera e Chalini Torquato, já abordado em outros textos no blog do OPSlab, nos ajuda a analisar campanhas como essa da Victoria’s Secret, que tentam trazer a imagem da diversidade para as marcas. A tradução de diversitywashing seria algo como “lavagem da diversidade”, dando a entender que a ideia está sendo distorcida para o grande público. De acordo com as autoras, essa prática pode ser identificada com o uso de seis traços visíveis nos anúncios: representações inadequadas, atribuição de neutralidade, bastidores contraditórios, diversidade limitada, comportamentos incoerentes e vida passada.

No caso da campanha aqui em análise, observamos traços de diversidade limitada e vida passada. Com uma trajetória marcada pela idealização insistente de um padrão de beleza quase inalcançável, a marca tenta se afastar desse histórico incluindo uma modelo negra, em meio a uma maioria branca, que se encaixa no padrão de mulher magérrima usualmente adotado pela marca. Além disso, inclui a nova modelo Ali Tate-Cutler que, apesar de ser plus size pelos padrões de medida (do 44 ao 62, se encaixando quase no início da escala), possui um corpo atlético, sem estrias e cheio de curvas, distante dos corpos da maioria das mulheres.

Ali Tate-Cutler usa no anúncio lingeries cintura alta ou maiôs que cobrem a barriga, além disso, os ângulos escolhidos e as técnicas de edição usados nas fotos tentam disfarçar as características de seu corpo. Sendo assim, a campanha cria um apagamento dos “traços reais” de uma pessoa plus size, podendo contribuir para que mulheres gordas se sintam pressionadas a terem esse “ideal” de corpo plus size representado pela Victoria´s Secret.

A chefe de cozinha Paola Carosella fez uma colocação sobre a campanha em seu perfil no Twitter, com a seguinte postagem: “esta mulher linda, natural, que evidentemente se alimenta de comida e que tem um corpão cheio de curvas é a modelo PLUS SIZE da #victoriasecret. Que irresponsabilidade falar que um corpo assim é plus size! Que pressão estão colocando sobre as mulheres e meninas!? sinistro !!!”. O tweet da Paola acionou outras mulheres a criticarem a marca, relatando terem tentado comprar roupas plus size na loja da Victoria’s Secret, e se sentindo constrangidas pelas roupas não serem proporcionais aos seus quadris.

Vale ressaltar que a Victorias Secret vem recebendo grande quantidade de críticas pela falta de diversidade em suas campanhas há algum tempo, e suas vendas e popularidade estão em declínio desde 2016. Entretanto, certamente, o uso de diversitywhashing não é o caminho para uma marca que pretende estar alinhada aos valores sociais do seu tempo. É necessário ir além de uma publicização distorcida de corpos. É preciso representar modelos de fato diversas, mas também alinhar o que se anuncia de diversidade com os tamanhos das roupas encontradas nas lojas.

O caso da Victorias Secret nos mostra que usar uma diversidade muito limitada para poder se intitular como uma marca diversa não trará benefícios a longo prazo nesse contexto atual. Isso, na verdade, é continuar reforçando, ainda que implicitamente, a associação da imagem de mulheres brancas e super-magras com “anjos” e “perfeitas”.


Texto escrito por Camila Polmann, graduanda em Comunicação Social pela UFMT, integrante do OPSlab.

Leia também: Um segundo de representação: a diversidade limitada do anúncio da marca O Boticário, mais uma análise sobre a prática do diversitywashing.


Referências:

BLUEBELLA. Publicação de fotos da campanha por Bluebella. 06 out. 2019. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B3R84halBbj/?utm_source=ig_embed.

CAROSELLA, Paola. Publicação de opinião via twitter por Paola Carosella. 09 out. 2019. Twitter: @PaolaCarosella. Disponível em: https://twitter.com/PaolaCarosella/status/1181983287511801856.

CARRERA, Fernanda; TORQUATO, Chalini. Divertisywashing: as marcas e suas (in)coerências expressivas. as marcas e suas (in)coerências expressivas. 2020. Disponível em: http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/2069.

TATE-CUTLER, Ali. Publicação de fotos da campanha por Ali Tate-Cutler. 04 out. 2019. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B3NCeYLnuwV/?utm_source=ig_embed.

TERRA. Do 44 ao 62: confira padrões de uma plus size no Brasil. 2014. Disponível em: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/moda/do-44-ao-62-confira-padroes-de-uma-plus-size-no-brasil,4adb572925ad7410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html

UOL. Cancelamento do desfile da Victoria’s Secret marca o fim de uma era na moda. 2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/11/21/cancelamento-do-desfile-da-victorias-secret-marca-o-fim-de-uma-era-na-moda.htm